sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Racismo no futebol e os perigos da impunidade



Lamentável ainda termos de presenciar atos racistas num estádio de futebol. Como em qualquer outra esfera. Mas no futebol se tem a ideia de que tudo pode, que tudo é permitido. Que, ao ser levado pelo inconsciente coletivo ou pelo folclore, o torcedor pode utilizar-se dessas manobras e insultar, ofender, humilhar seus rivais ou adversários. Esse tempo já passou.

O goleiro Aranha, do Santos, representou apenas mais um caso já na reincidente Arena do Grêmio. O episódio deste mesmo ano envolvendo o zagueiro Paulão, no Gre-Nal válido pelo campeonato gaúcho condenou o clube a pagar 80 mil reais. Financeiramente nada para a instituição, mas um registro importante nos autos para uma ocorrência posterior. E ela veio, podendo trazer sérias consequências ao clube. A entrevista após o jogo do arqueiro santista é revoltante. Mostra um ser humano ultrajado, no calor do momento, acostumado a ouvir impropérios durante um jogo de futebol (em que quase tudo é permitido), mas extremamente abalado pelo limite superado. Limite da razão, da paciência.

A discriminação pela cor é uma estupidez em qualquer ocasião, mas no futebol é inominável. O desporto, lúdico ou competitivo é democrático e une a todos, no campo e na arquibancada. Não há razão que justifique a segregação em qualquer área social. No futebol então, chega a ser burrice, pois a proliferação de raças é que constrói o mundo em que vivemos. Um time de futebol também. Na verdade o futebol, nesse momento, se torna tão pequeno perto da reflexão social e histórica que devemos fazer. Infelizmente um século abolicionista não foi o suficiente para apagar anos de escravidão e a diferenciação das raças. Não consigo comemorar que ainda são poucos. Me deprime ver que ainda existem alguns agindo dessa forma.

Espero que o Grêmio como instituição tome providências além da nota oficial de repúdio. Que identifique e afaste do clube essas. Dificilmente o Grêmio irá se livrar de uma punição exemplar do STJD, tamanha repercussão do fato. E alguns torcedores simplesmente não conseguem entender que o folclore já não é mais interpretado como tal, pois vivemos tempos difíceis, de saturação, de um novo pensamento. Ou seja, expressões até então corriqueiras, comuns ao mundo do futebol, não podem mais ser encaradas da mesma forma.



Lamento também a forma como a torcedora Patrícia Moreira está sendo tratada nas redes sociais. Ela deu o azar de ser claramente flagrada insultando o goleiro Aranha. Mas ela não foi a única e não deve ser linchada por causa disso. Deve pagar pelo seu crime e talvez não pisar mais no campo do seu clube do coração. Mas jamais podemos defender o racismo cometendo as mesmas ou piores ofensas contra o agressor. Assim como não devemos generalizar. Muitos torcedores que ali estavam não concordam com a postura daquela meia dúzia de inconsequentes. A reincidência, no entanto, está mostrando uma péssima imagem do Grêmio para o futebol.

Afastem esses delinquentes. As câmeras mostram, é fácil identificá-los. A impunidade está deixando o mundo perigoso. E o futebol também.